PROGRAMA
Canzonetta Samuel Barber (1910-1981)
Lúcius Mota - Oboé
Vera Vianna -
Piano
Vier Stücke für Fagott und Cello Paul Hindemith
(1895-1963)
1. Mäßig schnell
2. Fuge
3. Lebhaft
4. Variationen
Glaubert Nüske -
Fagote
Diogo Lima - Contrabaixo
Peça para Fagote Joly
Braga Santos (1924-1988)
Glaubert
Nüske - Fagote
PouchaDass François
Rabbath (1931)
Diogo Lima - Contrabaixo
Duo Sonatina Brenno
Blauth (1931-1993)
Lúcius Mota - Oboé
Glaubert Nüske - Fagote
Density 21.5 Edgard
Varèse (1883-1965)
Ziliane Teixeira - Flauta Transversal
Amanda Silveira, Camila Matzenauer, Caroline
Turchiello,
Crystian Castro, Fernanda Barbosa - Dança
Anfiteatro Caixa Preta
15 de Dezembro de 2013
20 horas
Lúcius Mota |
Vera Vianna e Lúcius Mota |
Diogo Lima e Glaubert Nüske |
Diogo Lima |
Glaubert Nüske |
Ziliane Teixeira |
Lúcius Mota e Glaubert Nüske |
Plural. Esta é a palavra que melhor define a
música do século XX. Apesar das grandes narrativas da História da Música terem
privilegiado as vanguardas que se sucederam ao longo do breve século passado,
os intérpretes não deixaram de tocar as músicas que não foram canonizadas pelos
historiadores.
Desta
forma o recital que apresentamos hoje é uma mostra desta pluralidade. Da música
francamente romântica de Samuel Barber (1910-1981), à vanguarda que expandiu os
limites da técnica instrumental de Edgard Varesè (1883-1965) e François Rabbath
(1931), passando pelo neoclassicismo de Paul Hindemith (1895-1963) e Brenno
Blauth (1931-1993) e Joly Braga Santos (1924-1988).
A
Canzonetta de Samuel Barber deveria
ser o segundo movimento de um concerto para oboé e cordas, mas o compositor ao
receber o diagnóstico de que estava com câncer entrou em depressão e não chegou
a completar a obra. Após sua morte o manuscrito foi localizado e publicado.
Barber, sempre foi um grande melodista ao longo de sua carreira, como pode ser
observado nesta obra, na qual uma linda melodia é o fio condutor de toda a
peça.
Durante
os anos 1920 e 1930 Paul Hindemith escreveu diversas obras no estilo de Gebrauchsmusik,
música útil. Estas obras poderiam ter o nível para profissionais, ou, como é o
caso deste duetos, para amadores. A preocupação social do compositor se alia
aqui a um fato interessante: sua esposa tocava violoncelo e ele fagote. Os duos,
apesar de terem o estilo tão característico do compositor, não são de grande
dificuldade técnica. A substituição do violoncello pelo contrabaixo segue o
espírito utilitário do compositor.
Joly Braga Santos, compositor
português nascido em Lisboa, é considerado o principal sinfonista português do
século XX. A obra Peça para Fagote
foi composta no ano de 1946, primeira fase do compositor que mostra uma
tendência modal motivada pelo desejo de estabelecer uma ligação entre a música
contemporânea e o Renascimento. Dedicada a Ângelo Pestana, Peça para Fagote recebe hoje sua estreia brasileira.
Um
exemplo vivo da pluralidade da música do século XX é a música do o
contrabaixista franco-sírio François Rabbath. Conhecido por sua genialidade e
inventividade em seu instrumento, divide a história desse instrumento em duas
partes, antes e depois dele. Suas composições são mundialmente conhecidas no
meio do contrabaixo, demandando do intérprete uma pré-disposição para dialogar
com variadas culturas e estilos. Indagado sobre as origens de PouchaDass composta em 1968, Rabbath
responde: “É simples. Porque eu vi RaviShankar um dia e nós planejamos tocar
juntos futuramente. E eu ouvi sua sítara e o som, gostei muito. E eu disse –
com o contrabaixo, com o arco podemos imitar isso. Então, escrevi PouchaDass [...]”.
O
compositor gaúcho Brenno Blauth é um caso típico do comentário inicial deste
texto. Se os livros de história da música, e mesmo os estudos acadêmicos, não
lhe dão muito espaço, os interpretes, em particular os que tocam oboé, tem cada
vez mais se dedicado a sua música. O Duo
Sonatina para oboé e fagote é uma de suas últimas obras. A obra tem três
movimentos, no primeiro, uma melodia de grandes saltos é trabalhada de diversas
formas entre os dois instrumentos. O segundo movimento, é uma valsa que lembra
Shostakovich. O terceiro movimento talvez seja o mais próximo do estilo
nacionalista da primeira fase do compositor, porém, é o mais radical dos três.
Em alguns momentos, próximo ao fim da música, longos silêncios parecem anunciar
que o diálogo é impossível, para finalmente a obra ser concluída pelos dois
instrumentos tocando juntos a melodia que abriu o movimento. A interpretação
desta obra faz parte de um projeto de pesquisa em andamento dedicado à música
de Brenno Blauth, no qual se busca alinhavar os diferentes caminhos, às vezes
conflitantes, da música na universidade brasileira: a musicologia, a perfomance
e a educação musical. Não há registro de execução desta obra e talvez esta seja
a estreia mundial da peça.
Density 21.5 é uma obra para flauta solo escrita por Edgard Varèse em 1936 e
revista em 1946. A peça foi composta a pedido do flautista franco-americano
Georges Barrère para a estreia de sua flauta de platina (a densidade da platina
era de 21.5 gramas por centímetro cúbico). De acordo com o compositor, Density 21.5 é baseada em duas ideias
melódicas - uma modal e uma atonal - e todo o material subsequente é gerado a
partir destes dois temas. É considerada uma obra seminal, que produziu um longo
alcance de efeito sobre o repertório para flauta posterior a ela. Três aspectos
do trabalho destacam-se a este respeito: (i) contém o primeiro uso percussivo
nas chaves da flauta, com sons feitos pelo golpear das chaves ao tempo em que
se produz o som no registro grave. A riqueza de sons, o clique nas chaves e
outras técnicas estendidas agora encontradas no repertório da flauta podem ser
atribuídos a este início modesto em 1936; (ii) o uso prolongado do registo
superior agudo, demonstrando as possibilidades da nova flauta de platina de
Georges Barrère, era inimaginável na época; e (iii) o impacto dramático
conseguido por Varèse demonstrou que a flauta é um instrumento capaz de uma
poderosa intensidade musical. Neste recital, buscamos inovar em sua
interpretação contando com a performance de alunos dos cursos de Bacharelado e
Licenciatura em Dança da UFSM. Uma parceria pode dar muitos frutos no futuro!
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